Yuri Carvalho
Psicólogo clínico (UFMG) e escritor. Atuou como professor de filosofia e no CAPS I antes de se dedicar ao consultório particular. Publicou ‘Cartas para O.’ (Editora Patuá), livro que une experiências literárias e clínicas. Interessa-se pelos furos da linguagem: aquilo que escapa às palavras, mas insiste em vazar nos sonhos, atos falhos, sintomas e repetições do cotidiano.
CRP 04/72339

Minha Trajetória
Minha jornada começou nas salas da UFMG, onde a Psicologia me mostrou que a mente humana é mais labirinto que mapa. Mas foi a Psicanálise que me revelou o poder transformador da escuta. Não a escuta do “conselho” ou do “diagnóstico”, mas aquela que se faz em suspensão, capaz de acolher até o que as palavras não conseguem carregar. Desde então estive em muitos lugares…
No CAPS, aprendi que o sofrimento psíquico não é ilha: está entrelaçado a histórias sociais, a ausências coletivas. Acolhi pacientes cujas vozes eram abafadas pelo estigma da loucura, e descobri que, mesmo no caos, há um fio de desejo esperando ser tecido. Nas escolas, entre adolescentes, vi como a angústia se disfarça de rebeldia ou apatia — e como uma pergunta bem colocada pode ser um farol.
Em “Cartas para O.” (Editora Patuá), explorei a palavra como ferramenta de reinvenção. Assim como na análise, onde falar é um ato de reconstrução, a escrita poética é um diálogo com o invisível. Cada carta é uma tentativa de nomear o indizível — exercício que, não por acaso, ecoa o trabalho analítico.
Hoje, no consultório, cultivo um espaço onde o tempo é outro. Cada sessão é um ritual de fala e silêncio: não há pressa para “curar”, mas um compromisso com a verdade singular de cada um.